A correção da acidez do solo via utilização de calcário agrícola comumente limita-se aos primeiros centímetros de solo, sobretudo na camada arável, mais precisamente àquela camada a qual o calcário foi misturado ao solo com o auxílio de implementos agrícolas. Alguma porção do calcário ainda pode se deslocar alguns poucos centímetros abaixo da camada em que foi misturado ou mesmo quando é aplicado superficialmente. Contudo, tal deslocamento será variável em função da textura e porosidade do solo, bem como o tamanho das partículas de calcário.
Ainda assim, a acidez do solo também ocorre em camadas mais profundas para além da camada em que o calcário age. Camadas mais profundas que a camada arável podem ser exploradas pelas raízes de plantas se o solo apresentar condições que potencialize o crescimento de raízes, tais como reduzida acidez trocável e reduzida resistência do solo a penetração de raízes.
Importante destacar que raízes que exploram camadas mais profundas de solo sob rotação de culturas em sistemas plantio direto, por exemplo, contribuem com a recuperação de nutrientes que inicialmente estavam descolados para camadas mais profundos e elevam a resistência a veranicos já que as raízes tem acesso a um maior volume de solo e consequentemente um maior volume de água.
Para contornar os efeitos limitantes da acidez do solo em profundidade pode-se fazer uso do gesso agrícola. O gesso agrícola possui características e comportamentos que possibilitam seu uso como condicionador de solo. E aqui cabe uma ressalva importante: o gesso agrícola não é um corretivo de acidez, pois ele não altera a acidez ativa (pH). Ele age principalmente reduzindo a atividade do alumínio tóxico, além de ser fonte de cálcio (Ca) e enxofre (S).
O gesso agrícola pode ser aplicado em superfície, onde uma parte pode ficar retida nos primeiros cm e a maior parte se aprofunda no solo. Um dos motivos para isso ocorrer é devido a alta solubilidade deste material. Enquanto o calcário possui uma solubilidade ao redor de 0,014 g/dm³ o gesso é de 2,4 g/dm³, cerca de 171 vezes mais solúvel.
O gesso é basicamente a substância CaSO4.2H2O, e quando reage em água reage de duas formas, (I) se dissociado em Ca2+ e SO4– e (II) e se deslocando para camadas mais profundas devido ao par iônico CaSO40 de carga zero. Desta forma, como mencionado, uma parte do gesso pode fertilizar a superfície, e o par iônico CaSO4 movimenta-se para camadas mais profundas, reagindo em subsuperfície com a acidez trocável.
Em subsuperfície o SO4– reage com o Al3+, reduzindo assim a atividade do alumínio e consequentemente reduzindo sua toxidez. Como resultado tem-se um ambiente quimicamente mais favorável para o desenvolvimento de raízes.
Quando então é recomendado utilizar o gesso agrícola?
Algumas sugestões sobre quando e qual a condição ideal para aplicação do gesso agrícola:
Primeiramente deve-se verificar o resultado da análise de solo referente a camada de solo abaixo da camada arável pois ela é o principal alvo da gessagem. Portanto, a análise de solo deve apresentar pelo menos uma das condições abaixo:
- Teor de Cálcio (Ca) menor que 0,5 cmolc/dm3
- Alumínio (Al) maior que 0,5 cmolc/dm3
- Saturação por alumínio (m%) maior que 20%
- Saturação por bases (V%) menor que 35%
No próximo post iremos mostrar a você alguns métodos de cálculo para obter a necessidade de gessagem a ser recomendada.