Em um post anterior nós listamos aqui os três principais indicadores de acidez do solo: a acidez ativa (ou pH do solo), a acidez trocável (Al3+) e a acidez potencial (H+Al). Também falamos sobre como a observação destes indicadores em um resultado de análise de solo pode auxiliar na identificação de condições químicas limitações ao desenvolvimento e produtividade de diferentes culturas de interesse agronômico.
Para contornar tais limitações faz-se uso de práticas, tais como a seleção de variedades ou cultivares tolerantes a acidez, o uso de condicionadores de solo e/ou ainda a aplicação de corretivos de acidez, com especial destaque para pratica da calagem.
A calagem genericamente pode ser definida como a etapa de preparo solo em que materiais de caráter básico são aplicados ao solo com o objetivo de reduzir ou neutralizar os efeitos de acidez do solo. Objetivamente a calagem é caracterizada pela aplicação de calcário agrícola nos primeiros centímetros de solos a partir da superfície.
Apesar de outros materiais também serem utilizados como corretivos de acidez, tais como a cal virgem, a cal hidratada e as escorias de siderurgia, o calcário agrícola tem sido o material mais comumente aplicado para este fim.
Como os calcários reagem no solo
O calcário é formado majoritariamente por carbonatos de Ca e Mg que na presença de umidade reagem com consequente aumento do pH do solo e liberação cátions em solução.
Os carbonatos de Ca e Mg, presentes nos calcários, quando aplicados ao solo se dissociam em Ca2+ (e/ou Mg2+) e HCO3– na presença de água, liberando OH–. Os íons HCO3– hidrolisam moléculas de H2O. Como consequência do aumento da concentração de OH– há elevação do valores de pH do solo.
Reação do carbonato de cálcio no solo:
Com o aumento da concentração de OH– há aumento de pH. A OH– reage com o Al3+ neutralizando a atividade do mesmo na solução do solo. A atividade do Al3+ é completamente alcançada em pH por volta de 5,4-5,5.
Vê-se, portanto, que o calcário é fonte de Ca e Mg e estão passam a serem disponível para absorção por plantas após a reação do calcário com água. Normalmente o conteúdo de Ca e Mg dos corretivos de acidez é expresso em percentual de CaO e MgO. Estequiometricamente para cada 1% de MgO presentes na composição do calcário, a aplicação de 1t/ha vai representar uma adição de 0,0248 cmolc Mg2+/ dm3 solo. E cada 1% de CaO presentes na composição de calcário, a aplicação de 1t/ha vai representar uma adição de 0,0178 cmolc Ca2+/ dm3 solo.
Devido a baixa mobilidade do calcário os efeitos de correção de acidez do mesmo são restringidos à camada em que é incorporado. E quando aplicado na superfície do solo, sem incorporação, os efeitos do mesmo são limitados a pouco centímetros de profundidade.
Em função disso efeitos adversos de condições ácidas em profundidade para além da incorporação do calcário são comumente amenizados a partir da aplicação de gesso agrícola, que possui maior solubilidade e mobilidade apresentando assim maior potencial em melhorar as condições químicas para o desenvolvimento de raízes em camadas mais profundas. Contudo é importante ressaltar que o gesso agrícola não eleva o pH do solo. Ele reduz atividade do alumínio trocável e fornece Ca e S. Falaremos mais sobre o uso do gesso agrícola posts futuros.
Benefícios da correção da acidez do solo:
Devido a baixa mobilidade do calcário os efeitos de correção de acidez do mesmo são restringidos à camada em que é incorporado. E quando aplicado na superfície do solo, sem incorporação, os efeitos do mesmo são limitados a pouco centímetros de profundidade.
A pratica de correção de acidez do solo, além de amenizar efeitos adversos das fontes de acidez via aumento do pH e consequente redução da atividade do alumínio trocável, promove o aumento das CTC (capacidade de troca catiônica) do solo, o que favorece a retenção de cátions no solo que são aplicados pela adubação, como o K.
O aumento do pH do solo também aumenta a eficiência de fertilizantes. Por Também reduz a atividade do ferro e manganês, que podem ser tóxicos em altas concentrações. Quando sob uso de calcário dolomítico há também o fornecimento de Ca e Mg, elementos essenciais a nutrição de plantas.
A prática da calagem também estimula atividade microbiana no solo, favorecendo assim a decomposição e mineralização da matéria orgânica, consequentemente liberando os nutrientes ligados às cadeias carbônicas.
O conjunto destes efeitos melhora o desenvolvimento de raízes, com consequente maior volume de solo explorado pelas mesmas, aumentando assim o alcance de água e conteúdo nutricional disponível para as plantas.